Foi exibida ontem no Fantástico uma entrevista com a ex-primeira dama Rosanne Collor, que hoje se chama Rosane Brandão Malta, onde ela deu diversas declarações sobre a vida de seu antigo marido, Fernando Collor de Mello, na época em que este era presidente do Brasil. Na verdade, a única coisa de relevante, se é que isso tem alguma relevância, que ela disse, foi que o atual senador fazia magia negra na época. Enfim, puro sensacionalismo de um programa que, um dia, já prezou pelo telejornalismo sério e hoje é só um arremedo do que já foi.
E com todo esse assunto voltando sobre a vida de Collor à tona novamente, vamos relembrar a novela que iria mostrar sua trajetória no Congresso, mas que nunca foi ao ar por ter sido censurada previamente, em um dos casos mais estranhos da história da TV Brasileira.
O folhetim era O Marajá, que estrearia na Rede Manchete em 26 de julho de 1993. Eu disse estrearia, porque horas antes do capítulo de estreia, a emissora foi notificada judicialmente e impedida de exibi-la. Obra do ex-presidente, que conseguiu uma eliminar que impossibilitava a exibição, sob alegação de que a trama da mesma ofendia sua imagem, sendo que ele nunca a havia assistido. Mas será que a história afrontava o político, mesmo?
A História de O Marajá
O texto da novela era de autoria de José Louzeiro, Regina Braga, Eloy Santos e Alexandre Lydia e a história contava, em tom de sátira, o período em que aconteceu processo de impeachment de Fernando Collor em agosto de 1992.
O país era fictício, Collor passou a se chamar Elle, todos os outros personagens próximos do ex-presidente também tiveram seus nomes alterados, o “Plano 2000” – que consistia em manter Collor no poder por mais 5 anos – passou a se chamar “Plano 2020”, com o prazo sendo de 3 décadas, mas ainda assim, toda a história que ocorreu no Brasil estava ali.
A trama, quer era contada por um narrador, um repentista e uma fofoqueira, em uma tentativa de se comunicar dom diversos públicos de maneira igual, era centrada em Elle, mas tinha como protagonista a jornalista Mariana, que lutaria com todas as forças para desmascarar o presidente e sua rede de corrupção.
De acordo com Louzeiro, o folhetim traria um conceito até então revolucionário, onde algumas cenas eram comprovadas com depoimentos reais. Só que, por mais que tudo tivesse sido feito para que não houvesse problemas judiciais, a Manchete acabou perdendo a queda de braço nos bastidores.
O elenco de O Marajá
O elenco tinha nomes famosos na época e que acabaram frustrados por nunca terem visto seu trabalho no ar. Cada um deles vivia um personagem que correspondia a alguém da vida real, como você pode ver sobre alguns abaixo:
– Hélcio Magalhães era Elle e Vânia Bellas, Ella. Eram Collor e Rosanne, é claro.
– Wálter Francis era PC, esse sem despistar muito sobre quem o inspirava.
– Alexandre Borges era André, que correspondia a Jorge Bandeira, piloto de P.C. Farias;
– José Dumont vivia o motorista de Elle, alusão à Eriberto França, que dirigia para Collor;
– Jussara Freire era Felícia, correspondendo à Denilma Bulhões, ex-mulher do ex-governador de Alagoas;
– Lúcia Canário era chamada de “certa atriz de coxas grossas”, em referência à atriz Cláudia Raia, que apoiou Collor em 1989.
O resto do elenco você confere abaixo:
Júlia Lemmertz – Mariana
Antônio Petrin – Dr. Paulo
Antônio Pitanga – Tato
Lúcia Alves – Gilda
Iracema Starling – Adriana
Rubens Corrêa – Carlos Alberto
Rogério Fróes – Osório
Ivan Setta – Lucio C. Vulgo
Ângela Leal – Fofoqueira
Lúcia Canário – “Certa Atriz De Coxas Grossas”
Luiz Armando Queiroz – Narrador
Francisco Miguel Bezerra – Cantador
Que fim teve O Marajá?
A novela teria cerca de 70 capítulos – podendo até ser chamada de minissérie – que nunca foram ao ar. Mas e as fitas? Alguns dizem que elas teriam sido queimadas, outros afirmam que Adolpho Bloch, antigo dono da Manchete, falecido em 1995, teria guardado todo o material, com medo de represálias de Collor, e que o paradeiro dele seria desconhecido.
O que sobrou da novela você verá no vídeo abaixo, que é o único registro público da produção e que foi retirado do DVD Nossas Câmeras são seus Olhos, que acompanha o livro homônimo do jornalista Fernando Barbosa Lima, lançado pela Ediouro. Há a apresentação, bem tosca, por sinal, e algumas cenas, onde vemos bastidores da posse do presidente, com destaque para Júlia Lemmertz. Assista:
Se um dia veremos mais de O Marajá, é algo impossível de se dizer, mas vale o registro pela novela que nasceu morta e que, de certa forma, teve em sua censura o início da derrocada da Rede Manchete, uma das mais importantes da história da televisão nacional que fechou as portas em 1999.
Com informações de Collor